Xinando - Cartoon
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sexta-feira, 23 de junho de 2017

Achas para as fogueiras

A tragédia que ocorreu em Pedrógão Grande e arredores, tem feito vir ao de cima várias facetas dos seres humanos, como nós, Portugueses, o somos na maioria.
A primeira faceta é a solidariedade, demonstrada de várias formas, em primeiro lugar a das pessoas que deixam tudo para trás para salvar os outros, mesmo que possam não se salvar a si: os Bombeiros!
Também sobressai a coragem, o empenho e o sentido de responsabilidade de todos aqueles que desempenham funções diversas na luta contra esta situação, sejam forças de segurança, protecção civil, pessoal de saúde, e todos os anónimos que ajudaram a defender casas, a alimentar e alojar desalojados, e a apoiar famílias em desespero.

Depois, uma faceta horrível: o oportunismo.
Há quem roube casas evacuadas. Há quem chame a atenção a si. E há todos os tipos de oportunismo político. Nada disto me surpreende, claro.

A exploração jornalística, embora também previsível, já originou discussões (estéreis) sobre a ética de uns e outros profissionais, e com razão. O problema é que os mesmos que reconhecem que faltou profissionalismo a outros colegas, não são olham para a sua conduta, que muitas vezes põe instantaneamente em causa o trabalho dos outros.
Como é possível os órgãos de comunicação social estarem constantemente a entrevistar pessoas ligadas ao combate aos incêndios, com perguntas sobre questões para as quais não poderiam ter oportunidade sequer de terem respostas concretas?
Todas aquelas pessoas, sejam bombeiros na frente, sejam pessoas na coordenação, estão a tomar decisões sucessivas para controlar um incêndio gigantesco e trágico que lavra em várias frentes há quase uma semana. Todos se estão a esforçar para que se controlem e extingam os fogos. Acredito que muitos estão focados na emergência deste minuto e eles próprios terão dúvidas em cada decisão, e estão a escolher opções e a agir. Muitos estarão já permanentemente marcados pelo que viram, pelo que conseguiram fazer, e principalmente pelo que não conseguiram. Muitos estão cheios de "se..." e ficarão para sempre a se questionar se aquela decisão foi a melhor ou não... aquela entre milhares, a se sucederem furiosamente.

Tudo isto e continuamos a ver os senhores repórteres, em momentos em que as autoridades reservam para informar a população, a fazer perguntas do tipo: "o que falhou?", "não acha que fulano se deve demitir?", "de quem é a culpa?", sempre! A todos os que encontram! E depois toca a explorar a resposta, seja porque o interpelado foi evasivo, se foi falso porque disse o contrário do que se queria, ou se explodiu e disse algum disparate.
Sim, senhores jornalistas, os senhores têm discutido o que é informar e o que é sensacionalismo. Mas nesse vosso debate não consideram nunca que, a coberto do vosso "dever de informar", atrapalham quem está a tentar salvar vidas e bens. Imaginam que uma pessoa que está há dias a dar tudo, a dormir e a comer só se pode e sempre a menos, precisa mesmo que venha um "artista" lhe perguntar a que horas se vai demitir, ou se alguém se deve demitir?
Sim, o melhor que muitos faziam era se demitir a meio de um incêndio destes... demitir da irresponsabilidade!
Depois, e antes sequer de fecharem os gabinetes de crise, e de se apurar o que quer que seja, chama-se os governantes ao parlamento, pois o principal é ir esclarecer os deputados, e isso antes de se ter dados concretos é sempre mais interessante.
Depois do parlamento, entrevistas... nem chegam a saber onde são os gabinetes...

Cartoon de 23 de Junho de 2017

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